Entrevista com Marcus Vinícius Ferreira

Ser campeão mundial não é uma tarefa fácil, ainda mais em uma modalidade relativamente nova e que ganha novos adeptos e jogadores a cada dia. Marcus Vinicius Ferreira, natural de Santos e ex-tenista pode se orgulhar de ser chamado campeão mundial de Beach Tennis. Um dos principais jogadores da modalidade bateu um papo conosco em uma clínica ministrada na Academia Winner Tênis, em São Paulo. Acreditem, sua rotina inclui a participação em torneios, aulas e clínicas em diversas academias e cuidar da pequena Lara sua filhinha de 11 meses. Veja como foi o papo:

NC: Você veio do tênis, quais são as similaridades dos dois esportes e quais dicas você pode dar para quem quer sair da quadra para a areia?

Marcus Ferreira: Quanto às similaridades, a mais funcional seria a empunhadura. É o esporte mais similar em relação as técnicas. No tênis você aprende os voleios que são parecidos aos voleios do Beach Tennis, ambos utilizam a técnica da empunhadura continental. Tem alguns golpes parecidos como o smash e o saque. Essa adaptação do tenista, pelo que eu vejo na prática é bem interessante, têm alguns que conseguem se adequar rapidamente porque pensam no Beach Tennis como um outro esporte, bem diferente e já não entra na areia pensando em jogar tênis. Ele observa os jogadores, até vendo vídeos e percebe as diferenças, que são notáveis como: manter a raquete alta na posição inicial, abertura frontal dos voleios.
A dica que eu posso dar é jogar, quanto mais tempo você passar na areia , mais rápido irá entender como funciona o esporte, sobretudo pelo posicionamento e pelo fato da bolinha não pingar.

NC: O Beach vem crescendo, com a organização de torneios e um grande número de jogadores em cada point, na sua opinião o que falta para ganhar um maior apelo midiático?

MF: Realmente o Beach Tennis vem crescendo bastante, se popularizando muito facilmente, até pelo ambiente, pelo jogo em si e a facilidade de jogar. O apelo midiático será consequência, pois ainda é muito novo. Tem muita gente que desconhece e sequer viu alguém jogando. Acredito que falta tempo para alcançar o nível que nós que praticamos e amamos esse esporte mereça. Um ponto muito positivo aconteceu em 2018, quando aconteceu a primeira transmissão da SporTV, na qual o Eusébio Resende e o Narck Rodrigues fizeram a cobertura pelo site Globoesporte.com e conseguimos um feedback muito positivo com relação a filmagem, por ter quatro câmeras e toda a qualidade de uma transmissão profissional. Conversando com o Narck, me afirmou que ainda não era a transmissão mais top que tinham, então acho que falta também um pouco de tecnologia, semelhante as transmissões do tênis, por exemplo. Beach Tennis as transmissões ainda não são tão boas e as pessoas dizem não ver a bolinha, mas isso acontece porque ainda não são transmissões profissionais. Se profissionalizar o publico se surpreenderá com a qualidade do esporte

NC: Como é a rotina de um atleta profissional de Beach?

MF: Ainda não dá para viver do beach tennis profissional e todos os atletas necessitam de uma renda extra, alguns conseguem com maior facilidade patrocínio e apoio, inclusive de governos e tem outros que trabalham dando aulas ou em negócios da família, então a realidade é bem distinta. O nível da dedicação varia muito, a profissionalização pode mudar essa realidade, trazendo mais qualidade e longevidade as carreiras.

NC: Como você se prepara antes dos jogos? Segue algum tipo de ritual?

MF: A preparação varia de acordo com cada torneio, alguns são mais perto de casa e isso é bom porque você não foge da sua rotina e, tampouco, precisa viajar longas distâncias e o trajeto pode ser feito até mesmo de carro e a rotina de jogo é igual a de treino, tanto na parte de alimentação como na parte de treinos. Em torneios em lugares mais distantes, a preparação um pouco mais detalhada, chegar um pouco antes para poder se adaptar ao fuso e verificar o tipo de comida que tem no local, se precisará levar alguma comida daqui.

NC: Como foi se tornar campeão mundial de Beach?

MF: Foi um sonho difícil de acreditar, acho que nossa trajetória até chegar ao titulo foi o que surpreendeu a todos. Para quem conseguiu nos acompanhar mais de perto soube de todas as dificuldades que enfrentamos nos confrontos contra a Alemanha, que chegamos a salvar match points, bola na fita, defesa ajoelhado, enfim, até a virada no confronto ganhando na mista. Até na semifinal contra a França, atuais campeões europeu e na final contra a Itália, de 2-0, sendo o primeiro país a ganhar deles nesse confronto por esse placar. E no confronto decisivo, pude ao lado do Thales ganhar da lendária dupla Carli/Capelletti, que tem inúmeros títulos europeus e mundiais. O título simboliza toda a superação e todo o esforço que cada atleta empregou para trazer esse título mundial por equipes para o Brasil.

NC: Qual dupla considera mais difícil se enfrentar no circuito?

MF: Hoje acredito que é a dupla número 1 do mundo formada pelo Nikita e pelo Giovaninni, que é uma dupla que tem muito poder de ataque e está sempre pressionando bastante. Mas o Beach Tennis tem sempre mudança de parcerias e uma dupla que a gente enfrentou no mundial Carli/Capelletti que também tem um estilo de jogo bem parecido. É sempre difícil enfrentar jogadores consagrados como Gavarini, Cramarossa, Calbucci, enfim, são jogadores que sempre trazem dificuldades independente do parceiro.

NC: Um torneio marcante

MF: O torneio mais marcante na minha carreira com certeza foi o primeiro G1, que nós nos consagramos campeões e foi disputado em nossa cidade, em Santos. Joguei com o Thales e na época organizei o evento, na época acumulava mais essa função. Consegui superar totalmente as expectativas e fisicamente estava muito bem. Na semifinal estávamos perdendo para Calbucci/Cramarossa, eu estava com cãibras devido ao desgaste físico e emocional do torneio. Viramos o jogo e foi a primeira vez que conseguimos ganhar dessa dupla. Na final salvamos match point e ganhamos no tie break do terceiro set da forte dupla formada pelo Alex Mingozzi e pelo Vini Font. Foi um torneio de superação no qual toda minha família estava presente, meus alunos, eu acho que ajudou a divulgar o Beach Tennis em nossa região e foi um divisor de água nas nossas carreiras e começaram a nos enxergar como jogadores de nível mundial

NC: Lugar mais legal que jogou…e o mais inusitado?

MF: Foi em um lugar paradisíaco: Bermuda, que é uma ilha que fica entre os EUA e a Europa, onde tudo é muito lindo. Tem lugares que só o Beach Tennis consegue nos levar. E o pior lugar que joguei foi na Rússia, em Samara, o torneio ficava a uma hora e meia do hotel mais próximo. Nos colocaram num hotel beira de estrada e ficava a duas horas do aeroporto. Não tínhamos nada para fazer. O torneio era disputado na beira de um rio e a areia era péssima, esquentava muito, um calor infernal.

NC: Algum atleta que você se espelhe e tenha como ídolo?

MF: Um atleta de verdade sempre tem seus ídolos e se espelha em outros, porque cada atleta tem seu momento na carreira e acaba achando lições que venham a passar e mostrar para o mundo. Meus ídolos são: Roger Federer, Gustavo Kuerten, Ayrton Senna, que são atletas que a cada dia mostram ou mostraram o que é ser atleta, desde o quesito de superação a estilo de vida.

NC: Como avalia o incentivo ao esporte no Brasil? Podemos chegar ao nível da Itália?

MF: A Itália não é o maior exemplo de investimento, mas sim o berço do esporte, então eles têm mais jogadores, o esporte é mais popular, as pessoas conhecem mais sobre o esporte. Você observa pessoas em cidades litorâneas com o raquete de Beach Tennis nas costas, porém isso é devido ao tempo de esporte, uma vez que o esporte existe desde a década de 80. No Brasil, o esporte tem 10 anos. Um país que é um exemplo de investimento é a Rússia, não é a toa que eles são os atuais organizadores do torneio mundial por equipes e investem muito dinheiro em torneios para trazer os melhores do mundo no esporte e assim poder investir também nos seus atletas. A Rússia consegue bancar mais despesas como as viagens de seus atletas. O Nikita ser o número 1 do mundo é fruto do investimento russo, mesmo eles não tendo outros jogadores em evidência. O tempo de esporte deles é relativamente o mesmo do Brasil e do restante do mundo.

NC :Além de jogar você também é professor de BT, como conciliar essa rotina?

MF: Com certeza esse é o lado mais difícil. Como falei antes, o Beach Tennis não é um esporte rentável e se fosse pensar só financeiramente, estaria apenas dando aulas. No estado de SP existem muitos profissionais que dão aulas e conseguem ter um retorno financeiro melhor do que nós atletas. Conciliar os treinos, viagens, a aclimatação para cada torneio é realmente uma rotina árdua, geralmente acordando muito cedo e dormindo tarde e nem sempre ter o descanso necessário e facilitando o aparecimento de alguma lesão. Mas é nossa realidade e não temos muito para onde correr. Não adianta ficar batendo de porta em porta pedindo ajuda e patrocínio, porque precisamos ter o esporte mais conceituado para mensurar o valor das conquistas brasileiras no Beach Tennis

NC: Algum objetivo na carreira que ainda não alcançou?

MF: Apesar de todas as conquistas como o Mundial de equipes, o tetracampeonato pan-americano, sul-americano e brasileiros, mas tem torneios que todo jogador sonha em conquistar e no Beach Tennis é Terracina, o mundial da Itália, antes disputado em Cervia,ondeconseguimos duas vezes alcançar a semifinal. É um torneio que sempre estão presentes os melhores do mundo e sabemos de toda a dificuldade. Aruba também. Já conseguimos ganhar duas vezes a Nations Cup, que é a competição entre os países e ganhar o ITF de Aruba é um grande sonho, por se tratar do maior torneio da modalidade.

NC: O que achou das novas regras do BT?

MF: Quanto a linha dos 3 metros é uma regra que a gente já experimento no passado e foi muito positivo, os jogos, principalmente no masculino, tem mais rallies. É válido ser uma regra do esporte. Algumas academias e clubes não estão cientes da regra e a marcação vai muito também do fair play de cada atleta de não invadir a área no momento do saque adversário

NC: Que recado da para quem quer começar a praticar o esporte

MF: Pratique e comece a jogar sem medo. É um esporte fácil para quem está iniciando, ainda mais para quem já teve experiência esportiva com bola e é um esporte altamente desafiante para quem deseja se dedicar a nível competitivo e para quem quer a melhora contínua. Para quem nunca praticou nada, indico sim começar com um professor para desenvolver as técnicas o mais corretamente possível. Para quem já joga e quer alcançar um nível maior é importante para adquirir conhecimento que é a base para evoluir como jogador, atleta e pessoal. É um esporte maravilhoso e quem começa a jogar acaba não parando. Venha fazer parte do time do Beach Tennis, também.

Sobre o Autor
Formado em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero e Especialista em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais pela Universidade Anhembi Morumbi, profissional com mais de 10 anos de experiência em comunicação organizacional. Desenvolvimento de atividades como: relacionamento com o público interno, coordenação e estratégias de criação e comercialização de campanhas em mídias sociais, trade marketing e comunicação externa. Know how em gestão de canais, organização de eventos, cerimonial e protocolo, relacionamento com stakeholders, além de coordenação da edição de publicações técnicas. Responsável pela carreira e imagem de atletas de performance e profissionais, além do gerenciamento da comunicação organizacional e marketing de empresas dos ramos de esportes, qualidade de vida, cultura, ensino e entretenimento, atendendo contas como CNA Idiomas e Sutton São Paulo. Atuou como docente convidado do módulo Relações Públicas, Assessoria e Comunicação Interna no curso de pós graduação de Gestão da Comunicação Integrada do Senac. Também ministra palestras sobre temas variados de comunicação.
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