Lições que aprendi com meu pai

Engraçado que quando paramos para pensar quem são nossas inspirações e modelos a resposta vem quase que instantaneamente. Primeiros ídolos de muitos, os pais são aqueles super-heróis que não usam uniforme ou capa, mas parecem, por vezes, terem superpoderes. Em nossa infância, sobretudo, seguimos cada passo deles, buscando em pequenas ações imitá-los e tentar mesmo que por alguns instantes arrancar aquele tão difícil sorriso de satisfação, de orgulho. As primeiras conquistas estão baseadas na aprovação que temos dos nossos pais e isso vale mais do que qualquer medalha ou troféu,

Meu pai teve uma infância difícil em uma pequena cidade da Paraíba. Veio para São Paulo na esperança de dias melhores e trabalhou muito para conseguir alcançar seus objetivos. Mesmo sem instrução, sempre conseguiu demonstrar para seus empregadores o empenho e determinação que se tornariam características marcantes de sua personalidade. Aos poucos, angariava degraus com rapidez e conquistava cargos de liderança. Afinal, ser líder é também um dom, não é algo que aprendemos numa sala de aula ou num escritório, simplesmente nasce com você e na hora certa irá se manifestar e esse dom que meu pai tinha o fez não apenas liderar, mas cativar as pessoas que trabalhavam com ele.

Chegou a gerir equipes imensas, com pulso firme e justiça, e a humildade de quem sabe de onde veio. O trabalho se tornaria não só sua válvula de escape, mas também o principal elemento de sua vida, mesmo cobrando um preço muito alto: sua saúde. Essa sua devoção tornou nossa relação um pouco distante, nossos poucos momentos juntos se resumiam aos famosos almoços de sábado e aos jogos de futebol que assistíamos na TV no domingo e nem mesmo isso fez a minha admiração por ele retroceder o mínimo que seja, ele era fantástico. Um grande professor da vida que mesmo sem saber me ensinava pelo simples fato de estar ali. Buscava seguir seus passos, ser como ele, mas era uma tarefa um tanto quanto ingrata. Nas raras vezes que trazia o trabalho para casa contava casos interessantes e como driblara situações tão adversas. Ser líder é andar constantemente na corda bamba com pessoas atirando objetos em você de todos os lados.

Ao longo dos anos, sua saúde e vitalidade já não eram mais as mesmas e mesmo assim acordava as seis da manhã para cruzar a cidade e ser o primeiro a chegar no escritório “Não preciso fazer isso, mas tenho que dar o exemplo” afirmava com aquele ar charmoso e carrancudo. As constantes viagens também eram parte de sua rotina e quando ele partia sentia um estranho vazio, mesmo sabendo que ele precisava ir e que seria por um curto intervalo. Sentia que eu precisava ficar mais perto, que esse tempo que teria com ele talvez não tivesse mais. A dedicação ou a já citada devoção ao trabalho atingiram um ponto insustentável em sua vida e após muitos anos de serviços prestados e já aposentado, a “temporada” que passou no hospital parecia algo como o descanso merecido de alguém que dedicou sua vida à sua profissão.

Sentia que a pessoa mais forte que já conhecera ia enfraquecendo aos poucos e o tão presente brilho no olhar ia se apagando como a chama de uma vela. Sabia que aqueles momentos poderiam ser os últimos e passei cada instante com ele. Em um mês, nossa convivência parecia maior que nos 24 anos anteriores e aprendi muito. Indagava para ele a falta de reconhecimento no trabalho e minha impaciência sobre a recorrente demora em conquistar meus objetivos. “Filho, tem sempre alguém olhando!” essa frase ficou marcada e costumo a repeti-la constantemente para meus pares.

Após sua morte entendi que era preciso mudar, me mexer, correr atrás do que sempre quis, mas a segurança da zona de conforta me impedia. Era hora de explorar. de empreender, assim como ele, de tentar ser o líder que ele foi, ou pelo menos tentar. Sua vida foi uma cartilha de como ter uma carreira de sucesso, mas também que não devemos nos devotar a algo que pode tirar muito de nós. Hoje, não sigo seu ritmo frenético de trabalho, mesmo tendo herdado um pouco do seu lado workaholic. Valorizar cada momento e também a saúde passaram a ser premissas básicas, assim como buscar a justiça em cada ação.

Às vezes me pego pensando que poderíamos ter uma última conversa e mostrar a ele o quanto ele me ensinou e tudo que alcancei tentando ser um pouco parecido com ele. Mesmo sem querer ele me ensinou tanto que hoje sei que cada conquista, cada objetivo conquistado devo a ele, a pessoa mais determinada que conheci.

Viver uma vida que você se orgulhe, esse talvez seja o maior legado que ele tenha me deixado e por tentar criar um filho sob os rígidos costumes com o qual fora criado, talvez tenha me dado esse ar tão competitivo. Sempre vou correr atrás e você estará junto comigo, sendo minha maior inspiração, pai!

Sobre o Autor
Formado em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero e Especialista em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais pela Universidade Anhembi Morumbi, profissional com mais de 10 anos de experiência em comunicação organizacional. Desenvolvimento de atividades como: relacionamento com o público interno, coordenação e estratégias de criação e comercialização de campanhas em mídias sociais, trade marketing e comunicação externa. Know how em gestão de canais, organização de eventos, cerimonial e protocolo, relacionamento com stakeholders, além de coordenação da edição de publicações técnicas. Responsável pela carreira e imagem de atletas de performance e profissionais, além do gerenciamento da comunicação organizacional e marketing de empresas dos ramos de esportes, qualidade de vida, cultura, ensino e entretenimento, atendendo contas como CNA Idiomas e Sutton São Paulo. Atuou como docente convidado do módulo Relações Públicas, Assessoria e Comunicação Interna no curso de pós graduação de Gestão da Comunicação Integrada do Senac. Também ministra palestras sobre temas variados de comunicação.
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