Tampa Bay Buccaneers: a certeza com base na incerteza para uma equipe vencedora

Por Bruno Coprerski* e Caio Ferracina

Se achou nosso título muito filosófico, vamos ao pragmatismo tão amplamente praticado na Liga de Futebol Americano: quais desses dois cenários você acha que representa um time campeão?

Opção 1:
– um Quarterback (o “camisa” 10 da bola oval, que pensa e executa as jogadas do ataque) selecionado na primeira rodada do concorrido Draft, a prateleira mais alta dos craques vindos do College;
– um treinador (Head Coach) jovem, 35 anos e cheio do chamado “freshness”, com ideias novas e disruptivas para esse esporte tradicional, mas com playbooks cheios de inovações;
– um Tight End (aquele atacante fortão, alto e que alcança os lançamentos mais altos e faz os bloqueios mais duros, para abrir espaço para os caras mais rápidos) jovem e “imaculado” por uma carreira sem lesões graves e cheio de vitalidade;
– um Coordenador Defensivo (DC) com uma carreira vitoriosa no College, uma transição fluida para a Liga profissional, tendo uma carreira ainda promissora como Auxiliar das principais franquias e esperando sua chance de chegar a Head Coach na NFL.

Opção 2
– um QB de 43 anos e escolha nº 199 do Draft de 2000, chegando no seu primeiro ano no time, após mais de uma década em outro time, sem entrosamento com nenhuma peça do ataque e tendo que estudar um novo livro de jogadas, o Playbook, em meio a uma pandemia;
– um treinador aposentado de 68 anos, assistente de outros técnicos em boa parte da sua carreira, que volta depois de uma pausa desde o final de 2017;
– um TE, também aposentado, que apesar dos 31 anos e dos três anéis de campeão (ao lado do Quarterback veterano) sofreu com lesões que encurtaram sua carreira;
– um DC de quase 60 anos, com um currículo de trabalhos interinos e como última passagem a demissão como Head Coach, em 2018, de uma das piores franquias da Liga.

Se você não conhece Tom Brady (QB), Bruce Arians (HC), Rob Gronkowski (TE) e Todd Bowles (DC) e a História (com H maiúsculo) de resgate e poder de reinvenção que esse caras escreveram, aqui vai a resposta: ESSES HOMENS SÃO A OPÇÃO 2!

Todd Bowles, o protagonismo negro de um “coadjuvante”

Cremos que, falar amplamente sobre o sétimo anel de Brady, o retorno exitoso (e esperado) do gigante Gronk, um dos maiores da história na sua posição, e um merecido título de um treinador competente como Bruce Arians, seja “chover no molhado”.

Não que esse monstruoso trabalho não valha textos, artigos, vídeos, tweets, horas de podcast… Mas nessa pauta do Barba, Cabelo e Bola sobre o poder de se reinventar e o resgate de uma essência vencedora, diante de um contexto tão incerto, há um pilar, um protagonista silencioso: Todd Bowles, o Coordenador defensivo rejeitado, negro e vindo de uma franquia pouco badalada, o New York Jets.

Antes de falarmos da reinvenção da defesa no Super Bowl (contra o ataque badalado do Kansas City Chiefs), que levou o caneco para o barco pirata de Tampa, é importante lembrar que esse sistema defensivo de Bowles já havia parado os ataques do New Orleans Saints e do Green Bay Packers, dos candidatos a Hall da Fama, Drew Brees e Aaron Rodgers, respectivamente.

Para muitos, o “Greatest Of All Time”, ou GOAT, Tom Brady – sem essa defesa que mostrou uma evolução muito rápida – poderia ter caído para Saints, Packers ou Chiefs, dos melhores ataques da temporada.

“Ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos”

Essa frase famosa do multi campeão da NBA, liga norte-americana de basquete, Phil Jackson, se encaixa muito bem ao que os Buccaneers fizeram na fase de Playoffs da NFL: não foram a defesa mais brilhante na temporada regular, mas na medida certa Bowles soube fazer os ajustes necessários para encarar os ataques mais temidos e talentosos nas fases decisivas.

E aqui cabe outra frase famosa, que muitos associam à Darwin, mas na verdade ele nunca a disse: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. E aqui faremos um resumo do que a defesa de Todd Bowles fez em uma das maiores doutrinações defensivas numa Final do futebol americano, mostrando essa adaptação ao jogo:

– No Super Bowl LV, Todd Bowles teve a coragem de fazer o que a maioria das equipes não queria ou não podia fazer contra o ataque de Kansas City (atual campeão) – ditar os termos desde o início. Importante destacar o tamanho dessa missão hercúlea: o QB Patrick Mahomes já é visto como um dos mais talentosos de todos os tempos, apesar do início de carreira; o TE Travis Kelce alcançou nessa temporada marcas que já o colocam como o principal da posição de todos os tempos; e o Wide Receiver Tyreek Hill é comprovadamente o jogador mais rápido de toda a Liga nos dias atuais; e por último, o Head Coach dos Chiefs, Andy Reid, é uma das melhores mentes ofensivas dos últimos anos na NFL.

– Tampa Bay e Kansas City já haviam se enfrentado na temporada regular (Semana 12) e Mahomes destruiu a defesa de Tampa Bay com 37 passes completos em 49 tentativas para 462 jardas, três touchdowns e nenhuma interceptação na vitória de 27-24. Para se ter uma ideia, no SB, o Quarterback dos Chiefs completou apenas 26 de 49 passes para 270 jardas, sem touchdowns (pela primeira vez em sua carreira) e duas interceptações.

– Um dos pontos determinantes de mudança do jogo da temporada regular para a grande Final foi a posição dos Safeties, membros da defesa no futebol americano. De acordo com o Next Gen Stats, a defesa do Tampa Bay se alinhou em uma proteção com dois Safeties em 59 das 68 jogadas (87%), a maior taxa de uma defesa liderada por Bowles em qualquer jogo nas últimas cinco temporadas. O que isso quer dizer? Ao posicionar Safeties, na zona do campo chamada “Secundária” você dificulta (e muito) a vida do QB adversário para lançar bolas em profundidade, especialidade de Mahomes.

– E outro elemento que aparentemente surpreendeu o ataque dos Chiefs no Super Bowl foi o efeito contrário. Ou seja, algo que a defesa dos Bucs fez a temporada toda, e na hora decisiva mudou: as chamadas Blitz, quando você posiciona mais jogadores na linha próxima ao QB, para pressioná-lo e dar menos tempo para executar a jogada treinada. Os defensores de Tampa realizaram blitz em apenas 9,6% de suas jogadas no SB, a taxa mais baixa de uma defesa liderada por Bowles nas últimas cinco temporadas (nesta temporada, os Bucs tiveram a quinta maior taxa de blitz da NFL, 39,0%).

– A maioria das defesas não joga mais cover-2 (dois Safeties) contra os Chiefs porque quando o ataque de Andy Reid vê uma movimentação com dois safeties, utiliza o jogo corrido (com seus Running Backs) e menos lançamentos, algo incrivelmente sem sucesso no SB LV. Bowles disse depois do jogo que o plano era tentar fazer com que Mahomes superasse suas primeiras observações – fazê-lo pensar mais do que ele queria, e então a linha defensiva poderia caçá-lo. Mahomes foi pressionado incessantemente, e as duas interceptações foram um punhal no coração de Kansas.

“Treinador Bowles? Nós o chamamos de Mastermind. Tivemos duas semanas para pensar sobre o que eles fizeram conosco na Semana 12. Fizemos uma ótima defesa durante os playoffs e [as pessoas] ainda duvidaram de nós”, disse o linebacker Lavonte David dos Buccaneers após o jogo.

Todd Bowles é um elemento-chave para esse título de Tampa Bay. Um trabalho que deve (e precisa…) ficar para a História! E reforça a opinião do BCB: ninguém via o Buccaneers como favorito ao título no início da Temporada; mas ao ver esse enredo quase hollywoodiano mostra que esse título era uma certeza com base na incerteza. O Coordenador defensivo é a razão maior do que qualquer outra para esse troféu e essa vitória incontestável, jogando de todas as maneiras possíveis, Bowles conquistou a vitória mais importante de sua longa carreira.

*Bruno Coprerski é Biólogo apaixonado por Esportes Americanos desde a 7ª série quando se encantou pelo baseball ao tentar rebater pela primeira vez. Depois disso foi se envolvendo cada vez mais com a estratégia do Futebol Americano e desde os anos 2000, o domingo é o dia mais importante da semana pois ele sempre passa o dia esperando o Sunday Night Football

Sobre o Autor
Formado em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero e Especialista em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais pela Universidade Anhembi Morumbi, profissional com mais de 10 anos de experiência em comunicação organizacional. Desenvolvimento de atividades como: relacionamento com o público interno, coordenação e estratégias de criação e comercialização de campanhas em mídias sociais, trade marketing e comunicação externa. Know how em gestão de canais, organização de eventos, cerimonial e protocolo, relacionamento com stakeholders, além de coordenação da edição de publicações técnicas. Responsável pela carreira e imagem de atletas de performance e profissionais, além do gerenciamento da comunicação organizacional e marketing de empresas dos ramos de esportes, qualidade de vida, cultura, ensino e entretenimento, atendendo contas como CNA Idiomas e Sutton São Paulo. Atuou como docente convidado do módulo Relações Públicas, Assessoria e Comunicação Interna no curso de pós graduação de Gestão da Comunicação Integrada do Senac. Também ministra palestras sobre temas variados de comunicação.
Contato

Entre em contato, em breve retornaremos!